O PROBLEMA DA ORGANIZAÇÃO

O PROBLEMA DA ORGANIZAÇÃO

A necessidade da organização é sempre ressaltada. Porém, as palavras, tal como “organização”, podem enganar as pessoas. Os trabalhadores, para realizar sua autoemancipação, necessitam de organização. A classe capitalista está muito bem organizada no Estado, assim como possui outras organizações menores (partidos, igrejas, etc.). Os trabalhadores, para superá-las, necessitam de consciência e organização. Os trabalhadores criaram os sindicatos e estes se voltaram contra eles. Hoje eles servem ao capital e ao Estado. Os trabalhadores ajudaram a construir os partidos políticos que diziam representá-los, mas logo descobriram que estes representam seus próprios interesses.

O problema da organização só pode ser adequadamente entendido com a distinção entre organização burocrática e auto-organização. As organizações burocráticas são aquelas nas quais existe uma relação entre dirigentes e dirigidos, sendo que os primeiros possuem os meios de administração e poder de decisão, num processo de funcionamento legitimado por normas escritas (regimentos, leis, etc.). e marcado pela hierarquia e possuindo meios formais de admissão. O quadro dirigente, assalariado, tem o poder de decisão, mesmo quando a organização burocrática é “democrática”, funcionando através de eleições, etc. Esse é o caso do Estado, empresas capitalistas, partidos, sindicatos, etc. A função da burocracia na sociedade capitalista, tanto as organizações quando os burocratas (quadro dirigente) é o controle social visando a  reprodução do capitalismo.

A auto-organização, por sua vez, não é fundamentada na divisão interna entre dirigentes e dirigidos e hierarquia interna. É uma organização que tem como princípio a decisão coletiva. Os demais aspectos existentes que coincidem com o que há nas organizações burocráticas são distintas em seu conteúdo, tal como as normas escritas que existem, nesse caso, para garantir a decisão coletiva e inexistência de dirigentes. A auto-organização é um passo para a autogestão. A autogestão pressupõe que a decisão coletiva ocorra em todos os processos. A auto-organização numa fábrica não significa autogestão das mesmas. Um comitê de greve, por exemplo, é uma auto-organização, mas sua existência é temporária, com finalidade preestabelecida, é uma parte da empresa e não o todo. A formação de um conselho de trabalhadores abre espaço para a autogestão da empresa, mas ainda não é autogestão. Isso ocorre pelo fato de que a autogestão pressupõe autodeterminação, ou seja, que os trabalhadores se determinem plenamente, definindo os objetivos, meios, etc., não estando submetidos à divisão social do trabalho e lógica de reprodução do capitalismo. A autogestão em uma empresa pressupõe a abolição da burocracia e do capital.


A instauração de uma sociedade autogerida não ocorre da noite para o dia. Um longo processo de luta, de avanços e recuos, a precede. A formação de formas de auto-organização (comitês de greve, conselhos operários, conselhos de bairros, etc.), é fundamental, pois constituem os embriões das formas organizacionais da nova sociedade. Por isso, a luta contra as organizações burocráticas deve ocorrer simultaneamente com a luta pela auto-organização dos trabalhadores e ampliação de sua autoformação e consciência para garantir a compreensão da necessidade de transformação total e autogestão generalizada.
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Fonte: 
Jornal "Perspectiva Autogestionária" número 03.

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