Estudar é preciso...


Os trabalhadores são submetidos à um processo de expropriação do seu saber, uma educação formal de péssima qualidade e voltada para a reprodução das ideologias, concepções, valores, burgueses, meios oligopolistas de comunicação maniupaladores e reprodutores da hegemonia burguesa.

Nesse contexto, a formação política e autoformação dos trabalhadores se torna fundamental. Isso pode se dar através de grupos de estudos, reuniões de debates e reflexões, processos sociais de luta, A ANT tem como um de seus objetivos contribuir com esse processo. Veja a seção Formação, na qual disponibilizamos materiais para autoformação, bem com as outras seções sobre textos, vídeos, rádio, etc. A libertação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores, mas isso depende de sua auto-organização rumo à autogestão e autoformação e autoeducação.




Ganância...

O capitalista é, geralmente, um ganancioso. E acusa os trabalhadores de serem ganaciososo... A luta salarial é apresentada como prejudicial para a "economia" (no fundo, se for aumento de salário real, é prejudicial para a classe capitalista que poderá perder uma pequena parte do lucro). Para a sociedade, como um todo, não gera nenhum problema, pois aumenta a capacidade do mercado consumidor e ajudar a aquecer a produção e consumo.


Artigos e livros disponibilizados

A ANT, mantendo o seu compromisso com o a autoformação dos trabalhadores, abre mais uma seção no seu blog, contando com artigos e livros, entre outros materiais, para a pesquisa e reflexão de todos os interessados. Já disponibilizamos alguns materiais e em breve estaremos acrescentando muito mais material.

Confira, clicando aqui.

Ou então indo na barra lateral acima, clicando em "Textos".

"Dilma", um rock bolero de crítica ao governo federal


Abaixo a mais nova música de Edmilson Marques, o Rock-Bolero "Dilma", um uso irônico do bolero para realizar crítica social:


DILMA Quando você aposta tudo no outro Fica sofrendo como um louco Por causa da traição e da ferida Assim ela destruiu a minha vida As promessas eram tantas As suas palavras eram mantras A perspectiva era a felicidade Ela me dizia que eu era prioridade Agora nem respeito nem educação Uma traição que não merece perdão E seu irmão ainda levanta a mão Para me bater e me jogar no chão Quando você aposta tudo no outro Fica sofrendo como um louco Por causa da traição e da ferida Assim ela destruiu a minha vida Agora sei com quem está ficando E eu fico sofrendo, ouvindo e cantando Altemar, “maldito amor” e “aparências” Combina com você e suas maledicências O seu mantra é razão instrumental Me usou para ganhar e foi embora Agora me joga fora como bola Eu lhe fiz o bem e você me fez o mal Quando você aposta tudo no outro Fica sofrendo como um louco Por causa da traição e da ferida Assim ela destruiu a minha vida Me diga com quem andas, que direi quem és Te vejo com os donos dos bancos Longe da ralé e dos saltimbancos E ao lado de gente com joias da cabeça aos pés A minha dor é a de todo trabalhador, Me fez retomar Ravel, bolero e retrocesso. Corrupção de amor não dá processo Não tem impedimento, só tem dinheiro e valor Quando você aposta tudo no outro Fica sofrendo como um louco Por causa da traição e da ferida Assim ela destruiu a minha vida Ao seu lado outro está feliz Calculando o lucro da matriz Cada vez mais empobreço Sofrer por ilusão é o preço Agora só restou o Adeus Já dizia a canção Já lhe esqueci e aos seus Já comecei minha revolução!

Edmilson Marques e Nildo Viana

A greve nas Universidades e nos Institutos Federais: Os limites da ação sindical

A greve nas Universidades e nos Institutos Federais:
Os limites da ação sindical


A reflexão que se propõe aqui não é uma análise da greve em si e de todo o movimento grevista que as universidades e institutos federais vêm realizando desde junho de 2015. O intento é avaliar o modus operandi das instituições sindicais dentro deste movimento grevista para a partir daí elencar-se elementos para uma discussão da ação sindical em geral, sobretudo nas instituições públicas.

O governo federal, desde o início do segundo mandato de Dilma Rousseff, está radicalizando sua ofensiva sobre os interesses dos trabalhadores. Todas as medidas que o legislativo e o executivo vêm executando neste sentido atestam esta afirmação: aumento do fator previdenciário, aumento do tempo de trabalho para receber seguro desemprego, mudanças nas regras de pensão por morte, tramitação da lei que aprova a privatização das atividades=fins das empresas e instituições, o que precariza ainda mais as condições de trabalho já estabelecidas etc. são só alguns demonstrativos de como isto está sendo efetivado.

Agora em 2015, o governo anunciou um pacote de cortes em várias áreas sociais (saúde, educação, moradia popular etc.). Estes cortes visam equilibrar as contas do governo, que segundo apontam os analistas, há um enorme déficit na relação receita/despesa.

Os meios oligopolistas de comunicação estão em polvorosa propalando uma “crise econômica” terrível na economia brasileira. Sem entrar em detalhes nesta discussão sobre “crise”, alertamos que nosso entendimento é que há, na verdade, uma diminuição do “crescimento econômico”, o que não significa que não haja “crescimento”, sendo uma desaceleração da acumulação de capital, além de não haver questionamento por parte da classe operária e demais classes exploradas e oprimidas das relações sociais capitalistas, não havendo, portanto, nenhuma crise do capitalismo. Há, efetivamente, uma desaceleração da acumulação de capital, chamada de “redução do crescimento econômico” (basta ver a estagnação e às vezes redução da taxa de crescimento do PIB – Produto Interno Bruto). Isto acarreta diminuição e estagnação dos aumentos salariais, demissões, diminuição da arrecadação estatal, etc. Soma-se a este quadro a dívida pública brasileira e o compromisso do Estado brasileiro em transferir recursos para o setor financeiro transnacional.

As políticas neopopulistas do governo do PT durante a era Lula e início do primeiro mandato de Dilma Rousseff tornam-se cada vez mais difíceis de sustentação diante deste quadro. Os recursos diminuíram e estão sendo enviados para outros campos da atividade social. Basta consultar os lucros dos bancos aqui no Brasil no último trimestre. Somente o Banco Itaú, por exemplo, obteve um lucro líquido de 5,9 bilhões. Viva a crise!!! Para não delongar aqui em descrição de dados, registramos somente que o orçamento de 2015 destinou 45,11% de seu total ao pagamento da dívida pública, ou seja, transferência de dinheiro do Estado para os bancos privados transnacionais.

Toda esta situação gera no chamado “mercado”, o deus onipotente da modernidade, uma relação de desconfiança com o Brasil. O que os meios de comunicação anunciaram a todo o momento nos últimos meses é a redução da nota do Brasil por uma agência de classificação: Moody´s. Esta agência rebaixou a nota do Brasil e isto torna, segundo a fraseologia oca do jornalismo econômico, as condições de investimento externas no país bastante inseguras, fazendo com que novos investidores não se interessem pelo país. Assim, é necessário ao governo tomar novamente as rédeas da economia e para fazer isto ele tem que realizar aquilo que os escroques da economia, conduzidos pelo deus mercado, chamam de superávit primário, em outras palavras, investir menos e receber mais. Em uma palavra, o estado brasileiro tem que provar para o deus mercado que ele pagará suas contas.

Para que o governo dê essa garantia, ele tem que realizar alguns cortes. Estes cortes naturalmente não podem afetar os lucros dos bancos, das empreiteiras, das empresas transnacionais e nacionais, as fortunas dos muito ricos, etc. Naturalmente que estes cortes vão se dar nas áreas sociais (saúde, educação, segurança, moradia, reforma agrária e por aí vai). Foi exatamente isto o que aconteceu.

No primeiro semestre, o governo federal faz um corte (o nome bonito que a imprensa utiliza para isto é contingenciamento) de 69,9 bilhões de reais. A educação federal ficou em terceiro no ranking de cortes, perdendo para Cidades e Saúde. O total do rombo feito na educação foi de 9,4 bilhões, 19% a menos do que estava previsto para o ano de 2015. Esses cortes foram feitos no contexto em que se tem uma rede Federal de Educação Tecnológica (os institutos federais em plena expansão), juntamente com as universidades que também passaram por amplo processo de crescimento via REUNI. Assim, duas redes de ensino em expansão, que tem a maior parte de sua renda cortada no início do ano.

Mas não é tudo, agora em setembro de 2015, o governo anuncia que não vai reajustar os salários dos servidores federais em janeiro, adiando isto para agosto de 2016, não vai realizar concursos públicos (lembrando que as universidades e os institutos estão em expansão), vai retomar a CPMF, vai aumentar a alíquota de alguns impostos e por aí vai. Tudo isto para garante um superávit primário em 2016 de 0,7%. Isto mesmo. Este é o quadro. Este é cenário.

Diante desta situação em que se encontra o ensino público federal no Brasil, não havia outro remédio se não a contestação. A greve foi uma resposta necessária a este estado de coisas. Os profissionais comprometidos com a educação pública, gratuita e de qualidade iniciam no primeiro semestre um movimento de greve. É aqui que começa verdadeiramente nossa análise. Até aqui, nos contentamos em descrever o cenário tenebroso que se anuncia para a educação pública no Brasil para os próximos anos. Infelizmente, isto não é só para este setor, também outras áreas sociais irão pagar caro por este compromisso do estado brasileiro com o capital transnacional.

O movimento de greve é deflagrado. Os professores das Universidades tem no ANDES – Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior sua grande estrutura sindical. Os Institutos Federais tem no SINASEFE – Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica sua representação sindical à escala nacional. Existe uma terceira instituição, o PROIFES – Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior, que representa uma quantidade ínfima de instituições de ensino superior no Brasil. Os técnico-administrativos tem representação através da FASUBRA – Federação de Sindicato de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil. O SINASEFE também representa parte dos técnico-administrativos que não se filiaram à FASUBRA.

Estas são as grandes instituições sindicais que representam, nas mesas de negociação junto ao MEC – Ministério da Educação e Cultura e MPOG – Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, o conjunto dos trabalhadores das IFE´s – Instituições Federais de Ensino.

Cada uma destas federações congrega em si uma certa quantidade de sindicatos filiados ou de seções sindicais. Estas seções sindicais e sindicatos filiados enviam periodicamente delegados para Plenárias Nacionais. A partir das deliberações destas Plenárias, cada uma das federações sindicais encaminha suas reivindicações junto ao governo federal. A partir das pautas de reivindicações construídas segundo esta metodologia de organização, as federações encaminham para o MEC/MPOG os ofícios solicitando audiências. Os ministérios respondem aos ofícios agendando data de audiência e delimitando o campo de negociação. Por exemplo, se a pauta encaminhada pelos sindicatos tem 20 pontos a serem negociados, os ministérios dizem quais serão ou não debatidos. Estes que serão debatidos são aqueles escolhidos pelo próprio ministério. Foi o que aconteceu com esta greve de 2015. Um ponto fundamental que motivou a ascensão do movimento grevista foram os cortes na educação. Este era o ponto principal. Para além dele, havia um conjunto de outros pontos (reajuste salarial e pontos específicos sobre a carreira docente e técnicos administrativos). O ponto principal, ou seja, os cortes não entraram na escolha dos ministérios. Portanto, jamais foi levado a sério nas mesas de negociação. O que isto quer dizer é que quem determina o que vai ou não ser efetivamente negociado não são os trabalhadores, mas sim o próprio governo.

Os sindicatos necessitam apresentar um certo resultado positivo de suas mobilizações para as bases. Assim, perde-se o central: os cortes na educação; mas ganha-se outras coisas secundárias, mas mesmo assim são vistas como vitórias: reajuste salarial e melhorias no plano de carreira. E aí o argumento que se levanta é: “é impossível ganhar-se tudo o que se pede”. Reivindica-se uma quantidade grande pautas para negociar uma quantidade pequena de pontos para no final conseguir-se uma pequena vitória em algum ponto específico. Esta é a prática das mesas de negociação conduzidas por todas estas instituições sindicais.

Estas instituições sindicais são todas, exatamente todas, conduzidas por um ou mais partidos políticos. Há, portanto, uma aliança permanente de classe entre a burocracia partidária e a burocracia sindical. O que define uma classe social é sua posição na divisão social do trabalho, os interesses que surgem desta posição, o tipo de atividade que executam os indivíduos que pertencem a esta classe social. A burocracia como uma classe social é aquela que se define por ser a responsável por executar as atividades de gestão e direção das instituições. Toda instituição na sociedade capitalista comporta uma fração da classe burocrática. O exército necessita de uma burocracia militar, as empresas, de uma burocracia empresarial, os partidos, de uma burocracia partidária e os sindicatos de uma burocracia sindical. A atividade comum, portanto, à burocracia, independentemente de suas frações, é a gestão e direção das instituições.

Esta atividade gera nesta classe determinados interesses. O interesse fundamental é o crescimento e fortalecimento da própria instituição. Assim, todo burocrata defende com unhas e dentes a instituição da qual ele é diretor. Este modo de atividade gera também determinados valores e concepções nos indivíduos. Por exemplo, é comum no seio da classe burocrática um culto à autoridade, uma valorização da hierarquia e dos cargos, uma veneração pelos regimentos e estatutos, ou seja, um modo de pensar e agir também burocrático.

Assim, somente um sindicalista experimentado consegue entender e caminhar pelos labirintos do MEC/MPOG. Tem de ser um com larga experiência, tanto partidária quanto sindical. Ele deve compartilhar juntamente com os burocratas dos ministérios estes mesmos valores: respeitos aos regimentos, à autoridade, aos cargos, à hierarquia. Deve conhecer todo o modus operandi burocrático tanto do sindicato quanto do MEC/MPOG para poder navegar ali dentro com certa maestria. Sem este conhecimento, seu trânsito dentro das mesas de negociação fica inviabilizado. O sindicalista é, diferentemente do trabalhador não habituado com estas práticas burocráticas, um especialista da reivindicação. Ele convoca assembleia de trabalhadores, redige ofícios, reúne-se com os ministérios, negocia os termos do debate, assina acordos, conhece os estatutos, as leis, os regimentos, tem boa oratória etc. Esse é o perfil do sindicalista da FASUBRA, PROIFES, SINASEFE, ANDES... e todos os demais, também.

Retomando a reflexão sobre o conceito de burocracia como classe social, podemos dividir a classe burocrática em dois grandes grupos: 1) a burocracia estatal (governamental e permanente) e 2) a burocracia civil (empresarial, eclesial, partidária, sindical, terceiro setor etc.). Cada uma destas frações comporta também extratos. Assim, há extratos da burocracia que se aproximam das classes trabalhadoras, tal como o caso de alguns partidos e sindicatos e outros extratos que se aproximam da classe capitalista (magistrados, altos executivos de empresas etc.). A burocracia, portanto, não é uma classe homogênea. Por comportar diferentes frações e extratos, em seu interior há uma permanente luta de interesses, de conflitos interburocráticos.

É dentro deste espectro que situamos as lutas sindicais nas IFE´s. Os vários sindicatos que se posicionam frente aos ministérios são extratos inferiores da classe burocrática. Os ministérios, obviamente, são extratos superiores de tal classe. Este conflito interburocrático não aparece à superfície de modo claro. É necessário um processo de análise e crítica para evidenciá-lo. Os sindicatos aparecem como representando os interesses dos trabalhadores de sua base. As negociações caminham a passos lentos e os acordos assinados são o resultado de um maçante vai-e-vem de propostas e contrapropostas. Ao final, dentro dos termos que o governo estabeleceu desde o início, pequenas concessões são feitas. O Sindicato retorna à sua base e diz: “tivemos poucas conquistas, mas nossa greve foi vitoriosa mesmo assim”...

Este é o roteiro de toda greve nas universidades e institutos federais nos últimos anos. Por que a coisa caminha sempre do mesmo jeito? Não há possibilidade de ação política para além deste ciclo de pseudodebate interburocrático?

Em primeiro lugar, os sindicatos e as federações sindicais que os representam junto ao MEC/MPOG são o tipo de organização necessária para uma massa de trabalhadores despolitizados. Sim, estamos falando aqui dos professores e técnico-administrativos das universidades e institutos federais: a fina flor da intelectualidade brasileira. A divisão clássica entre “direção” e “base” já ilustra esta situação. As direções dos sindicatos e das federações expressam estes extratos inferiores da classe burocrática. As bases, ou seja, os professores e técnico-administrativos vão a reboque e/ou às vezes empurrando as direções sindicais. Isto varia. Se o sindicato é da base do governo (o PROIFES, por exemplo, que é controlado pelo PT/PCdoB), ele não quer a greve, é contra a greve etc. Quando isto acontece, a base empurra o sindicato. Quando os partidos políticos no controle do sindicato são da oposição, geralmente levam a sua base a reboque (SINASEFE, FASUBRA, ANDES etc. que são disputados por uma plêiade de forças políticas PSTU, PCB, PSOL etc., além, claro, de indivíduos que não são vinculados a nenhum partido político mas são iludidos com as possibilidades da luta sindical). Uma massa desinteressada, despolitizada, desorganizada só pode ser a “base” de uma estrutura burocrática organizada, articulada e politicamente orientada, a “direção”.

Em segundo lugar, as dimensões continentais do território brasileiro dificultam um processo de organização e articulação das “bases” para além das estruturas sindicais. Este é um processo lento, demorado, mas necessário de exercício político que os trabalhadores das IFE´s devem realizar. Para tanto, a primeira exigência é reconhecer que a atuação sindical é protocolar. Ela não pode ir além de si mesma. Os burocratas sindicais, pelos métodos burocráticos usuais, só conseguem chegar a acordos pífios com os burocratas estatais. A exigência é, pois, arrancar às mãos dos burocratas especializados o processo de luta. Ou os trabalhadores da “base” tomam em suas mãos o processo de organização, condução, ação de suas lutas ou continuar-se-á a reprodução ad eternum do mesmo modus operandi das greves conduzidas por tais estruturas sindicais.

Além das dimensões territoriais do Brasil que dificultam o trabalho de organização à escala nacional, há também a fé dos trabalhadores na institucionalização. Só há luta verdadeira quando conduzida por uma instituição, que de preferência tenha CNPJ. Sem esta institucionalização, para muitos trabalhadores, é impossível haver organização e luta. Esta fé irracional e irrefletida da maioria dos trabalhadores é um sério empecilho ao desenvolvimento de novas experiências de organização e de ação. Assim, a construção de novas formas de luta deve ser realizada junto a um amplo processo de difusão e discussão destas ideias. É necessário haver, pela via da propaganda e da ação, a divulgação destas teses, o convencimento, a crítica etc. O avanço da organização deve caminhar junto com o avanço da consciência.

As instituições sindicais são hoje em dia um entrave ao desenvolvimento da luta dos trabalhadores (isto na esfera da educação e em todas as demais). Reconhecer isto é somente o primeiro passo para um avanço. O passo seguinte é desenvolver outras experiências de organização. Não é necessário ser um expert em teoria social para realizar tal ato. Em todas as experiências de greve no campo da educação nos últimos anos, forma-se junto com o sindicato ou contra o sindicato, o Comando de Greve. A experiência do Comando de Greve é um ótimo ponto de partida para a edificação de novas formas de organização. Findado o movimento grevista, a articulação, organização e debate iniciado no Comando deve continuar. Os trabalhadores que se reuniram durante a greve devem continuar sua mobilização, sua discussão, sua reflexão. Isto é necessário para um crescimento contínuo, tanto no campo organizativo, quanto no campo da consciência. O Comando de Greve deve se transformar num Comando de Mobilização ou qualquer outro nome que a categoria queira dar. Esta é a condição primeira para que se consiga ir estruturando um novo tipo de práxis política.

Contudo, a mera articulação em um único local de trabalho é insuficiente. Os trabalhadores articulados no Comando de Greve e posteriormente no Novo Coletivo que se desenvolver devem ampliar seu campo de comunicação. Há Comandos de Greve em todos os lugares que entraram em greve agora em 2015. Tanto no âmbito dos institutos federais quanto das universidades, esses Comandos devem se articular, tanto no âmbito da mesma instituição, quanto no das demais. Universidades e Institutos devem criar laços de comunicação e organização. Em um momento no qual não haja greves, é mais difícil que isto aconteça, pois o trabalho cotidiano e alienado o impede. Contudo, não inviabiliza que se criem mecanismos de contato e comunicação. As redes sociais e as facilidades de comunicação existentes hoje viabilizam este processo. Uma retomada do processo grevista já se daria em um patamar superior, pois estes mecanismos de comunicação já criados teriam mais condições de avançar para formas de organização intercampus e interinstituições.

As disputas sindicais por ampliar suas bases de atuação impedem que isto aconteça. O ANDES e a FASUBRA não conversam, pois cada um representa uma categoria de trabalhadores dentro das IFE´s, o primeiro os professores, a segundo os administrativos. O SINASEFE não divide as duas categorias, mas só representa os trabalhadores dos institutos. Atualmente a FASUBRA entrou nos institutos e vem retirando uma quantidade considerável de trabalhadores administrativos da base do SINASEFE e os colocando na sua. Estas disputas intersindicais são um problema para o desenvolvimento e articulação nacional das lutas dos trabalhadores das IFE´s. Novamente, ou se reconhecem os entraves que o sindicalismo provoca hoje em dia nas lutas sociais ou se permanecerá dando murro em ponta de faca durante muito tempo.

A greve nas instituições federais de ensino em 2015 foi motivada sobretudo pelos cortes no orçamento. Este foi o mote, a grande pauta, o elemento mobilizador desta greve. Em nenhum momento, nenhuma destas estruturas sindicais colocou efetivamente em pauta, nas mesas de negociação, esse problema. Há, por parte de tais instituições a aceitação tácita de que esta parada já estaria perdida. Para a greve não ser uma derrota completa, todas elas aceitaram os termos dos ministérios (negociar reajuste salarial e pontos específicos do plano de carreira). A prova de que não há efetiva negociação, mas sim acordo entre burocracia sindical e burocracia governamental, é que, devido às dificuldades orçamentárias do governo, ele simplesmente disse que não iria cumprir o acordo tácito que sempre cumpre com as burocracias sindicais. Ao invés de conceder o reajuste, o prorrogou de janeiro para outubro de 2016, ao invés de dizer que se prontifica a discutir e resolver os problemas das instituições, simplesmente anunciou mais cortes e a paralisação na realização de concursos públicos. Isto demonstra, efetivamente, que não há disputa de forças efetivas entre instituições sindicais e ministérios. Há acordos tácitos, que criam uma sensação de pseudovitórias.

Portanto, a relação MEC/MPGO X SINASEFE/ANDES/PROIFES/FASUBRA é uma pseudoluta. Enquanto os trabalhadores não reconhecerem este dado básico, não será possível qualquer avanço real, concreto tanto nas conquistas imediatas (aumento real de salário – não somente reajustes, melhoria nas carreiras), quanto conquistas a médio prazo (valorização real e efetiva da educação pública pelo estado brasileiro). O que se coloca, portanto, aos trabalhadores das IFE´s é: ou tomam as suas lutas em suas mãos em organizações autônomas, independentes, não-burocráticas ou seguem silenciosos e obedientes aos seus sindicatos e ao governo.


Setembro/2015
Associação Nacional dos Trabalhadores – ANT


Texto de Formação 03: O Mais-Valor

Texto de Formação 03:
O Mais-Valor


ANT
Associação Nacional dos Trabalhadores


Foi abordado no texto de formação 1 o modo de produção capitalista. Foi afirmado ali que o elemento que define o modo capitalista de produção é o processo de extração de mais-valor do proletariado. Lá definiu-se que o mais-valor é uma forma de trabalho não-pago, ou seja, que o trabalhador executa, mas não recebe nada em troca por ele. É possível que tal relação exista na sociedade moderna, visto isto ferir as leis vigentes em todo Estado democrático?

Quando se questiona geralmente às pessoas o que elas entendem por capitalismo, as respostas que comumente são dadas são estas: “capitalismo é lucro”, “capitalismo é dinheiro”, “capitalismo é consumo” etc. Embora todas estas respostas estejam corretas, estão também todas incompletas ou pelo menos formuladas de modo errado. O lucro, o dinheiro, o consumo etc. são todos processos verificáveis na sociedade capitalista, são parte deste modo de produção. São condições para sua existência. Contudo, não são os elementos definidores desta sociedade. Tanto o dinheiro quanto o consumo são também perceptíveis em sociedades pré-capitalistas, como por exemplo, a sociedade escravista antiga.

O que define o modo de produção capitalista é extração de mais-valor. Mas o que vem a ser isto? O modo de produção capitalista é fundado na relação entre duas classes sociais, a classe capitalista (dona das fábricas, minas etc.) e a classe operária ou proletariado (aquela que só tem sua força de trabalho para vender no mercado). Trata-se, portanto, de uma relação entre duas classes: o capitalista tem o capital e o utiliza para comprar a única mercadoria que os trabalhadores tem, sua capacidade de trabalhar, sua força de trabalho. O capitalista tem capital (máquinas, matérias-primas etc.), o trabalhador tem sua capacidade de trabalho. Ambos se encontram no mercado e o capitalista paga ao trabalhador um salário que equivale ao valor da força de trabalho deste trabalhador. Este, por sua vez, trabalha durante oito horas por dia, produzindo uma determinada mercadoria (carro, salsicha, computadores etc.). O capitalista vende estas mercadorias, pega o dinheiro obtido no mercado e retorna novamente à produção, comprando mais matérias-primas, mais máquinas e mais trabalhadores, reiniciando todo o processo novamente.

Vivemos assim, no melhor dos mundos, onde todo mundo ganha. Certo? Errado.

Para que entendamos o conceito de mais-valor, é necessário que compreendamos primeiramente o valor da mercadoria. O valor da mercadoria não tem o sentido comum de preço. Esse valor é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para se produzir uma determinada mercadoria. Quanto maior o tempo gasto na produção de determinada mercadoria, maior será também seu valor. Contudo, isto não quer dizer que se um capitalista esperto mandar seus operários trabalharem mais devagar, aumentando assim o tempo de trabalho, aumentará o valor de suas mercadorias. O que conta é o tempo médio que o conjunto das fábricas que produzem aquele artigo gasta e não esta ou aquela empresa individualmente considerada, pois nas relações de distribuição, no mercado, há uma equalização.

Toda mercadoria (caixa de fósforos, celulares, etc.) tem um valor, ou seja, foi gasto determinada quantidade de minutos, horas ou dias para ser fabricada. Da mesma forma que toda mercadoria tem um valor, também a força de trabalho, ou seja, a capacidade de trabalhar dos trabalhadores é uma “mercadoria”. Como se mede seu valor? Da mesma maneira que as demais, ou seja, medindo-se o tempo necessário para se produzir a força de trabalho do trabalhador e de sua família. A soma de todos os bens consumidos pela família trabalhadora (água, luz, alimentação, aluguel, internet, etc.) forma o seu valor. Este valor é expresso num preço, o salário. A ideia de salário mínimo é exatamente isto, ou seja, qual é o mínimo necessário que em determinadas condições sociais é suficiente para o trabalhador e sua família sobreviverem? O cálculo deste mínimo forma o valor da força de trabalho, que pode coincidir com seu preço (o salário).

Assim, o capitalista paga ao trabalhador o valor de sua força de trabalho, dando-lhe um salário que é necessário à sobrevivência do trabalhador e de sua família. Novamente, o nosso capitalista é uma pessoa interessante: dá emprego ao operário, paga-lhe o valor de sua força de trabalho. Nada há a questionar nisto.

Contudo, o que se observa é outra coisa. Saindo da mera aparência e procurando compreender a essência da produção capitalista, descobrimos coisas insuspeitas. A nossa atual jornada de trabalho é delimitada em forma de lei num total de 8 horas diárias. Somando-se o nosso desenvolvimento tecnológico, o treinamento de nossa força de trabalho, o estado de desenvolvimento científico, as matérias-primas disponíveis etc. somos conduzidos a entender que o tempo de trabalho necessário para um trabalhador específico reproduzir o valor de sua força de trabalho é de aproximadamente 4 horas. Ou seja, se a classe operária trabalhasse somente 4 horas, ela já reproduziria o valor de sua força de trabalho (salário), o desgaste das máquinas, as matérias-primas etc. Contudo, ela trabalha 4 horas a mais. Estas 4 horas excedentes, o capitalista embolsa e não diz nada a ninguém. Fica com as horas de trabalho materializadas em mercadorias as quais ele vende no mercado. É forçoso dizer, portanto, que o trabalhador trabalha 4 horas para si e quatro horas para o capitalista. As quatro horas que trabalha para si, ele recebe um salário. As quatro horas que trabalha para o capitalista, ele não recebe nada em troca. O trabalho excedente efetivado durante esse período é chamado de mais-valor, ou seja, um valor a mais que o operário acrescentado às mercadorias e que ele não recebe nada em troca. A produção capitalista é fundada, pois, num roubo diário do trabalho da classe operária. O modo de produção capitalista é um modo de exploração de uma classe - burguesia - sobre outra - proletariado.

Há duas formas de se extrair mais-valor: 1) prolongando a jornada de trabalho; 2) investindo no desenvolvimento tecnológico e nas formas de organização e gerência do processo de trabalho. A primeira, chamamos mais-valor absoluto, a segunda, mais-valor relativo. Este procedimento é verificável no interior de qualquer unidade de produção. Se somarmos todo o conjunto de mais-valor produzido em um determinado país, digamos, por exemplo, em um ano, teremos assim o mais-valor global deste país. O mais-valor global expressa o processo de exploração do conjunto da classe operária de um determinado país. O mais-valor global é, depois de produzido, realizado no mercado. Parte dele volta para o capitalista em forma de lucros, outra parte vai para os bancos, outra para os comerciantes, outra para os impostos, outra em renda fundiária para os latifundiários, outra para os salários dos subalternos, burocratas, intelectuais etc. (sobre estas classes, confira o texto de formação 2). Quando se diz, portanto, que a base da pirâmide da produção de riquezas na sociedade capitalista é o proletariado, é este sentido preciso da afirmação.


Assim, para finalizar, a luta entre a classe capitalista e a classe operária é inevitável. Uma luta para diminuir a extração de mais-valor, a outra luta para aumentá-la. Esta disputa entre capitalistas e operários é verificada, por exemplo, na luta dos trabalhadores para reduzir a jornada de trabalho, na luta que estes travam para diminuir a velocidade das linhas de produção etc. Essa luta é complementada por outra luta, que é quando o proletariado coloca em questão a própria relação com a classe capitalista, a exploração, o mais-valor. É quando o proletariado luta contra o capital para sua abolição e instauração de uma nova sociedade. Assim, a luta de classes é, no capitalismo, inevitável. Destas formas assumidas pela luta entre burguesia e proletariado trataremos nos próximos textos de formação.

Protesto e incêndio de Ônibus em Goiânia


As Razões do Protesto

O transporte coletivo urbano é um dos grandes problemas sociais do Brasil. Ele é um serviço privado fiscalizado pelo Estado que cumpre com a necessidade de locomoção da força de trabalho (os trabalhadores e sua ida ao trabalho, que é uma necessidade da classe capitalista e não só das classes trabalhadoras), dos consumidores (forma para concretizar o consumo, o que também é interesse do capital), dos estudantes, etc. O capitalismo gera a divisão social do trabalho e, por conseguinte, uma divisão social do espaço (antes do capitalismo, no feudalismo, as unidades domésticas eram unidades de produção e consumo, no qual se produzia valores de uso, bens necessários para a sobrevivência, e depois dele as unidades domésticas se tornam apenas unidades de consumo, separadas das unidades de produção - fábricas, empresas, etc. - e tudo passa a ser produção de mercadorias por causa do seu valor de troca). Essa divisão social do espaço se amplia cada vez mais, acompanhando a complexificação da divisão social do trabalho. O lazer, por exemplo, que era antes concretizado na unidade doméstica ou comunidade circundante, agora é realizado nos shopping centers, estádios, casas de show, etc., com exceção do uso dos meios oligopolistas de comunicação e internet, que afastam os indivíduos dos outros em suas próprias residências. Assim, a divisão social do espaço, nos grandes centros urbanos, cria a necessidade de transporte coletivo urbano. 

Nas grandes metrópoles, existem trabalhadores que gastam de quatro a oito horas diárias para ir e vir de sua casa ao trabalho. E isso é feito, em grande parte dos casos, em condições precárias no capitalismo subordinado (os países "pobres", chamados de "terceiro mundo", "subdesenvovidos", como é o caso do Brasil). O transporte coletivo urbano é dominado por empresas capitalistas oligopolistas que visam o lucro e não a locomoção ou o bem estar dos passageiros. Por isso, renovar e aumentar a frota de ônibus, aprimorar os mesmos, diminuir ou congelar os preços das passagens, remunerar bem e preparar melhor os trabalhadores do transporte coletivo (motoristas, cobradores, etc.) é algo impensável para tais capitalistas. Para ter lucro, quanto mais precário e lotado o ônibus, melhor. 

É este o principal motivo do péssimo estado do transporte coletivo urbano. Este foi o motivo das manifestações estudantis em 2013, incluindo as que foram reprimidas violentamente pelo Estado, aparato da classe capitalista, e que gerou as manifestações populares de junho de 2013. Esse é o motivo pelo qual explodem, espontaneamente, revoltas e protestos de usuários dos transportes coletivos em diversas cidades do Brasil.

Goiânia foi hoje palco de protesto da população contra o transporte coletivo. Abaixo repassamso informações sobre o ocorrido, que não é o primeiro, pois sempre esses protestos vem ocorrendo na cidade, já há alguns anos. Em alguns casos, são meros piquetes que impedem a circulação de ônibus, em outros, quebra e incêndio acontecem complementarmente. É a revolta legítima da população trabalhadora, das classes desprivilegiadas, que produzem as riquezas existentes e nem possuem condições dignas de vida (transporte, moradia, etc.). 

Por isso a ANT chama as classes trabalhadoras, o proletariado e todos os demais trabalhadores para se unir, pois para combater a força do Estado e da classe capitalista e seus serviçais (burocratas, forças repressivas), somente a união, a auto-organização e a consciência podem fortalecer nossa luta até conseguirmos efetivar a transformação social e abolição do capitalismo e instauração da autogestão social!!


O protesto em Goiânia

Hoje, em Goiânia, cidade com quase um milhão e meio de habitantes, cuja região metropolitana possui mais de dois milhões de moradores, houve um protesto espontâneo da população residente no Jardim Primavera. o número de ônibus queimados já chegou a seis, incendiados por manifestantes deste bairro, nesta manhã de segunda-feira, dia 21 de setembro. O protesto é por melhorias no transporte, incluindo o número de ônibus, que é insuficiente para o transporte dos moradores da Região Metropolitana para a capital.

"Por volta das 10h40, os manifestantes colocaram fogo no sexto veículo, mas o incêndio foi controlado pelo Corpo de Bombeiros. Antes disso, outros cinco ônibus do Eixo Anhanguera foram incendiados e completamente destruídos" [http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/seis-%C3%B4nibus-s%C3%A3o-queimados-durante-protesto-na-go-070-1.950605].



"Além dos veículos, o grupo também colocou fogo em pneus para aumentar o bloqueio da pista.
Segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), os dois sentidos da rodovia estão bloqueados e não há previsão para o término do protesto. Ainda de acordo com a PRE, o acesso a rodovia por dentro dos bairros também foi fechado" [http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/seis-%C3%B4nibus-s%C3%A3o-queimados-durante-protesto-na-go-070-1.950605]..



OS TRABALHADORES E O IMPEACHTMENT (Análise de conjuntura)

OS TRABALHADORES E O IMPEACHTMENT (Análise de conjuntura)

O governo da presidente petista Dilma Roussef está ruindo por dentro e diversos grupos de interesses pressionam para acelerar o fim do governo. Passado 16 anos de governos do PT (Partido dos Trabalhadores) a marolinha que o ex-presidente Lula afirmou que não abalaria as estruturas econômicas do país hoje se tornou um tsunami político que arrisca a por fim à Era PT, e com ela a desilusão com as políticas daqueles que ostentam no nome a massa da população brasileira, os trabalhadores. Por um curto período de tempo pôde o governo conciliar as políticas neoliberais (privatização aberta ou indireta, repressão intensificada, política de valorização do capital financeiro, retorno aos fundamentos agrícolas da economia brasileira, corte nos direitos trabalhistas, legitimação da reorganização do trabalho tendo como objetivo aumentar a exploração) com as políticas populistas (assistencialismo, aumento nominal do acesso ao ensino superior, elevação dos gastos do estado na economia). Agora as condições objetivas que possibilitaram a política ilusionista do governo PT não permitem mais que o duro realismo do neoliberalismo sem maquiagem.

Nota de Repúdio à suspensão e expulsão dos 20 de Camaçari!!!

A ANT repudia as práticas autoritárias da burocracia escolar e universitária, a serviço do controle social e reprodução do capital!!


Análises de conjuntura da ANT

Os trabalhadores precisam estar informados sobre as lutas de classes e processos sociais de seu interesse para lutar e intervir com maior eficácia e contribuindo com o processo de constituição da transformação social.

Nesse sentido, a ANT estará disponibilizando aqui análises de conjuntura para contribuir com esse processo.

Veja as análises já disponíveis:

Os Trabalhadores e o Impeachment - Setembro de 2015
A greve nas Universidades e nos Institutos Federais: Os limites da ação sindical - Setembro de 2015

TRABALHADORES CONTRA SINDICATO DOS METALÚRGICOS - O PROTESTO DOS DEMITIDOS DO ESTALEIRO

O proletariado e os trabalhadores em geral criaram os sindicatos mas estes, uma vez legalizados, mercantilizados e burocratizados, passaram a ter interesses próprios, aliados aos interesses de outras burocracias (partidária, governamentais, etc.). O acontecimento abaixo apenas demonstra isso, ou seja, como o Sindicato dos Metalúrgicos, ligado à CUT (braço sindical do PT - Partidos dos Trabalhadores, partido hoje no governo), ou seja, atrelada à burocracia partidária de tal partido e do governo, entra em confronto com os trabalhadores (vítimas de demissão, diante da situação nacional que tem como um dos principais responsáveis o governo petista de Dilma Roussef). Estes, espontaneamente, perceberam a função dos sindicatos, servirem aos capitalistas (patrões), Estado, partidos e a si mesmos (burocracia sindical). O confronto mostra que em períodos de desestabilização, a máscara de partidos e sindicatos cai e os trabalhadores são constrangidos a entrar em confronto com eles. Veja o vídeo e o texto abaixo:




Comentário de "Marx da Revolução", página do Facebook:

Imagens de trabalhadores do estaleiro no RJ entrando em conflito aberto com sindicalistas da CUT.
A emancipação dos trabalhadores deverá ser obra dos próprios trabalhadores!
Nem partidos, nem sindicatos! Pela autogestão social!


"E os sindicatos correspondem também ao Estado e respectiva burocracia pois, apesar da democracia que aí reina, os seus membros não são capazes de fazer valer a sua vontade contra a burocracia; qualquer rebelião, antes mesmo de poder abalar as cúpulas, destrói-se contra o aparelho artificial dos regulamentos e dos estatutos. Só por uma tenacidade obstinada uma oposião logra, por vezes, ao fim de anos, obter um sucesso modesto que se limita no máximo a uma mudança de pessoas. Foi por isso que nos últimos anos, tanto antes como depois da guerra, na Inglaterra, na Alemanha e na América tiveram lugar com frequência revoltas de sindicalizados que entraram em greve por sua própria iniciativa, contra a vontade dos chefes ou decisões das próprias ligas.
(...)


A revolução só pode vencer destruindo tal organização, transformando por assim dizer radicalmente a forma da organização, para construir qualquer coisa radicalmente nova: o sistema dos Conselhos. A sua instauração é capaz de extirpar e de eliminar não somente a burocracia estatal, mas também a dos sindicatos: não só formará órgãos políticos novos do proletariado em oposição ao parlamento, mas também as bases dos novos sindicatos. Nas lutas dos partidos na Alemanha, ironizou-se frequentemente a afirmação de que uma dada forma organizativa pode ser revolucionária, dizendo-se que isso dependia somente dos sentimentos revolucionários dos homens, das organizações. Mas se o conteúdo fundamental da revolução consiste no facto de as próprias massas tomarem nas suas mãos os seus próprios assuntos, a direcção da sociedade e da produção, então é contra revolucionária e nociva toda da forma de organização que não permita às massas dominar e governar por si mesmas; portanto deve ser substituída por uma outra forma que é revolucionária na medida em que permite aos trabalhadores decidir activamente por si mesmo sobre tudo." (A Força Contra-Revolucionária dos Sindicatos, Anton Pannekoek).


Texto de Formação 02: O Capitalismo (superestrutura)

Texto de Formação 02:
O Capitalismo (superestrutura)


ANT
Associação Nacional dos Trabalhadores

A palavra capitalismo também pode ser compreendida como o conjunto das relações sociais que caracterizam a sociedade moderna, ou seja, como sociedade capitalista. No modo de produção capitalista, as duas classes sociais fundamentais saão constituídas (burguesia e proletariado) e nas demais relações sociais, nos modos de produção subordinados, formas sociais de reprodução do capitalismo, temos outras classes sociais. Para compreender a sociedade moderna, é fundamental comprrender o modo de produção capitalista, do qual o texto anterior abordou de forma muito introdutória e breve. Pressupondo a leitura do texto de formação 01, destacamos agora a análise da sociedade capitalista.

A sociedade capitalista é constituída pelo modo de produção capitalista, pelas relações de distribuição (parte do modo de produção, mas que ocorre no espaço da circulação das mercadorias) pelos modos de produção subordinados e pelas formas sociais de regularização das relações sociais (Estado, cultura, direito, instituições, etc.). Os modos de produção subordinados são formas não-capitalistas de produção, como o modo de produção camponês, artesão, cooperativo, etc. Eles constituem outras classes sociais, como a do camponeses, artesãos, cooperados. As formas sociais (também chamadas de “superestrutura”) já não são formas de produção material e sim relações de reprodução, no plano do Estado, cultura (em suas múltiplas manifestações), direito, instituições, etc. e constituem novas classes sociais, como burocratas, intelectuais, subalternos, entre outros. Além disso, existem aqueles que estão na margem da divisão social do trabalho, como os desempregados, subempregados, mendigos, etc. formando a classe lumpemproletária.

O modo de produção capitalista transforma todos os bens materiais em mercadorias e mercantiliza toda a sociedade. Tudo para a ser comprado e vendido, incluindo a cultura, a política, a tecnologia, o direito, etc. Da mesma forma, tudo é burocratizado e passa a ser dirigido por uma classe burocrática. Isso cria um mundo competitivo, onde quase todos querem poder e riqueza. Assim, a sociedade capitalista é constituída por uma ampla divisão social do trabalho (esses modos de produção, formas sociais, são expressões de tal divisão). Cada instância de atividade especializada e fixa da sociedade estabelecida pela divisão social do trabalho visa reproduzir o as relações de produção capitalista. O aparato estatal e todas as burocracias visam manter o controle social, sendo que o direito e os regimentos compõem outra instância que objetiva, ao lado da produção cultural em geral, a legitimação, justificação e conquista de adesão para a sociedade capitalista, através de ideologias, valores, leis, arte, etc.

Esse processo é perpassado pelo modo de produção capitalista, através da mercantilização, burocratização e competição social, sendo que, como no capitalismo tudo é mercantilizado, tais instâncias necessitam de dinheiro para existir e agir. Assim, em tais formas sociais, se constituem classes sociais assalariadas improdutivas. A renda dessas classes improdutivas é oriunda, principalmente, do mais-valor global. A produção do mais-valor ocorre nas unidades de produção (fábricas, minas, empresas agrícolas, construção civil), mas sua realização ocorre no mercado, ou seja, nas relações de distribuição capitalistas. Ou seja, somente quando a mercadoria é vendida no mercado é que o mais-valor se realiza, é quando o capitalista se apropria, efetivamente, do mais-valor.

O Estado drena parte do mais-valor global e a utiliza para sua própria reprodução (os gastos estatais com sua imensa burocracia, suas instituições) e reprodução do capitalismo (políticas estatais, infraestrutura, etc.), contratando um conjunto enorme de pessoas (burocratas, intelectuais, subalternos, etc.) e através do controle social, produção cultural e repressão, objetivando a reprodução do capitalismo e o impedimento da transformação social. O Estado visa impedir crises financeiras, queda da taxa de lucro e outros elementos prejudiciais ao desenvolvimento capitalista.
A sociedade civil é submetida à hegemonia burguesa. A fonte dessa hegemonia está no poder financeiro da burguesia, no aparato estatal, e nas duas classes auxiliares da burguesia: a burocracia (voltada para o controle social) e a intelectualidade (voltada para a produção cultural). Nesse sentido, as ideias dominantes são as ideias da classe dominante. Uma sociabilidade capitalista comandada pela burocratização, mercantilização e competição social passa a dominar e, ao lado da hegemonia burguesa, promove a existência de uma mentalidade burguesa, que introjeta tal sociabilidade e a reproduz e reforça.


Em síntese, é possível dizer que as formas sociais (“superestrutura”) derivadas do modo de produção capitalista, são relações de reprodução deste, criando as condições para a manutenção da dominação burguesa no processo de produção e continuidade da extração de mais-valor, da exploração. No entanto, não existe apenas dominação e reprodução, existe resistência e luta, o que será abordado no próximo texto.

MANIFESTO DA ANT

MANIFESTO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES

Os integrantes atuais da Associação Nacional dos Trabalhadores, em reunião realizada dia 05/09/2015, vem declarar publicamente através deste manifesto os seus princípios, as suas propostas/reivindicações e seu projeto político e social.

Consideramos que a história das sociedades humanas, desde o surgimento das classes sociais, é a história da luta de classes. Essa luta de classes, que sempre promoveu a substituição de uma classe dominante por outra, gerou a sociedade capitalista, a atual sociedade de classes. A sociedade capitalista, contudo, trouxe a possibilidade e tendência de uma transformação radical do conjunto das relações sociais e a superação da própria sociedade de classes. Isto se dá, devido ao grande desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, o que gera uma produção de riqueza como nunca antes vista na história das sociedades humanas. Esta é a primeira condição para a superação do modo capitalista de produção. Outra condição são as crises que o próprio capitalismo produz. Estas crises são contradições que os capitalistas e o Estado não podem evitar. Contudo, estas crises e esta abundante produção de riquezas não conduzem, por si mesmas, ao fim da sociedade capitalista. É necessário um sujeito, uma classe social que se contraponha ao atual estado de coisas, bem como aponte concretamente a possibilidade de edificação de novas relações sociais. Tal sujeito, tal classe social já existe. No interior da sociedade capitalista, como produto mesmo do desenvolvimento desta sociedade, desenvolve-se uma classe social que tem condições de conduzir estas crises e contradições do capitalismo a um processo radical de construção de uma nova forma de sociedade, esta classe é o proletariado. Assim, pela primeira vez na história emerge a possibilidade de que uma classe social, através da aliança com outras classes submetidas ao capitalismo, bem como grupos e indivíduos descontentes com tal sociedade, ao invés de se tornar nova classe dominante, abolir as classes sociais em geral, gerando uma sociedade sem classes sociais, a sociedade autogerida, fundada na autogestão generalizada. O fim da luta de classes e da sociedade classista passa pela luta proletária e do conjunto dos trabalhadores no sentido de abolir a exploração e dominação, gerando uma sociedade fundada na igualdade e na liberdade.

O capitalismo é marcado por um intenso processo de exploração dos trabalhadores. O processo de produção de riquezas sob o capitalismo é marcado pela produção de mais-valor, que suga o sangue dos proletários, bem como outras formas secundárias de exploração e dominação. Assim, a produção de riquezas no capitalismo, devido ao fato de ser feita sob regime de exploração, gera contraditoriamente miséria, fome, precarização, crises, violência, entre diversos outros males sociais. O Estado assume um papel fundamental nesse processo. Ao se dizer “público” e “representante da nação”, apenas esconde que é um aparato da classe dominante, dos capitalistas, cuja função é garantir a reprodução do capitalismo. A existência de um aparato estatal, com seus meios de repressão, cooptação, controle, sobre a sociedade, apenas revela as contradições de classes que o faz necessário para a classe dominante. A classe capitalista possui a sua associação para fazer valer seus interesses de classe, que é o aparato estatal. É necessário, pois, contrapor à associação dos capitalistas, o Estado, uma Associação de Trabalhadores.

O capitalismo se mantém graças ao poder financeiro, concentrado e centralizado, da classe capitalista, ao poder estatal, e a um amplo conjunto de outras formas sociais de reprodução do mesmo no plano cultural (ideologias, representações, valores, etc.), poder jurídico, político, entre outros. Assim, a exploração e a dominação se generalizam na sociedade e os trabalhadores em piores condições são submetidos ao desemprego, subemprego, precarização, entre outras possibilidades. Aqueles, em condições mais estáveis, estão submetidos ao trabalho alienado, no qual se tornam seres controlados completamente durante oito horas diárias ou mais, se mortificando e se destruindo apenas para garantir os meios de sobrevivência, que no capitalismo são mercadorias que só podem ser adquiridas através do dinheiro. Tudo é transformado em mercadoria e isso torna a busca do dinheiro algo necessário para se garantir a aquisição dos meios para a sobrevivência, o prazer, o lazer, a reprodução geral da vida. No entanto, a busca do dinheiro acaba sendo o objetivo ao invés de meio, pois é em torno de sua busca que passa a girar a vida das pessoas.

Os trabalhadores são não apenas explorados, controlados, submetidos ao capital e à rotina do trabalho alienado, mas também são constrangidos a não ter liberdade e realização nem fora do trabalho, pois os meios oligopolistas de comunicação (TV, rádio, etc.) produzem lixo cultural para vender como mercadoria e retirar o avanço da consciência e organização dos trabalhadores. O cansaço e outros efeitos do trabalho alienado, junto com a ação estatal e desses meios de comunicação geram um processo de impedimento da autoformação intelectual dos trabalhadores, o que é reforçado por escolas e instituições de ensino que reproduzem as ideias e ideologias dominantes e a baixa qualidade cultural, que apontam para mascarar a exploração e a dominação.

O modo de produção capitalista é marcado pela luta de classes, sendo que a classe capitalista explora e domina o proletariado no processo de produção e ao nível geral da sociedade, o conjunto dos demais trabalhadores. Ele se fundamenta na extração de mais-valor, o trabalho excedente dos proletários, que gera o capital e sustenta a existência da classe capitalista. Isso possibilita a acumulação de capital, concentração e centralização do mesmo, gerando grandes oligopólios nacionais e transnacionais. O capitalismo se mundializou e mantém esse processo de reprodução. Mas ele é marcado por diversas contradições, tal como a luta operária e a tendência de queda de lucro, que geram diversas crises, desde as financeiras até outras derivadas de suas contradições, incluindo as que abrem possibilidade de uma revolução social.

Nos momentos de destabilização e crise, os mais atingidos são os trabalhadores. O aparato estatal intervém de acordo com os interesses da classe capitalista, diminuindo seus investimentos sociais realizados para amenizar as lutas dos trabalhadores, realizando um processo crescente de repressão e violência, gestando formas de intensificação da exploração. Nesses momentos, aumenta o desemprego, os salários são reduzidos, a inflação aumenta, entre diversos outros elementos. Nesse contexto, a luta dos trabalhadores tende a se radicalizar, o poder capitalista tende a se enfraquecer.

Tendo em vista todo esse processo, torna-se fundamental que os trabalhadores consigam superar os obstáculos para que atue com força política no sentido de enfrentar o capital e constituir uma nova sociedade. Além dos elementos acima elencados que servem para a reprodução do capitalismo, há um outro elemento que é fundamental para explicar o motivo pelo qual os trabalhadores não realizam constantes tentativas de revolução social. Pode-se apontar como razão para isto, a divisão e desunião dos trabalhadores. O capital vive gerando formas de divisão e desunião dos trabalhadores, via meios de comunicação, produção cultural, controle, legislação, conflitos internos, etc. As ideologias e concepções burguesas pregam o individualismo, o hedonismo, a primazia do interesse pessoal, o utilitarismo, o pragmatismo, entre outras formas de desunir os trabalhadores. Os trabalhadores são cada vez mais separados uns dos outros, como indivíduos atomizados (seja diante da TV ou do computador, para usar apenas dois exemplos de isolamento). A união fraterna, a solidariedade, a luta por um mundo radicalmente diferente, é constantemente atacada por iniciativas da classe capitalista que busca a todo custo evitar a associação dos trabalhadores.

A classe capitalista tem a sua associação, o aparato estatal, e os trabalhadores estão desprovidos de uma associação que faça valer os seus interesses de classe. Historicamente, os trabalhadores geraram formas de organização coletiva. No século 19, a luta dos trabalhadores gerou os partidos políticos e os sindicatos que diziam “representá-los”. Contudo, tão logo essas organizações foram aceitas e reconhecidas legalmente pelo aparato estatal, foram burocratizadas e passaram e ter interesses próprios, distintos e opostos aos interesses dos trabalhadores. Ao invés de organizações dos trabalhadores, tornaram-se organizações da burocracia, aliada da classe capitalista. É por isso que a luta dos trabalhadores hoje é uma lua contra o capital e o Estado, mas também contra todas as organizações burocráticas, inclusive partidos e sindicatos.

Nesse processo, o proletariado na sua luta criou novas formas de organização, tais como coletivos de ajuda mútua, comitês de greves, comissões diversas, etc. Essas formas iniciais de auto-organização acabam gerando outras formas mais complexas quando há avanço na luta dos trabalhadores, gerando conselhos de fábrica, conselhos de bairros, conselhos de trabalhadores. As tentativas de revoluções, desde o início do século 20 até os dias de hoje, sempre foram marcadas pela constituição de conselhos operários como forma de auto-organização revolucionária do proletariado. Nesse sentido, os conselhos operários são a forma de auto-organização que emerge nos momentos revolucionários e que se tornam organismos de autogestão das empresas, abolindo o capital (no âmbito jurídico, a propriedade privada) e se reunindo em grandes associações de trabalhadores que passam a gerir não somente as fábricas e empresas, mas o território e a sociedade como um todo. Porém, as tentativas de revolução proletária foram variadas e muitas não ultrapassaram o nível da organização no local de trabalho. Por isso não geraram a nova sociedade. O elemento fundamental é garantir a formação de conselhos e auto-organização por local de trabalho e moradia e sua articulação e generalização, como foi esboçado em algumas experiências históricas.

Esse processo é dificultado não apenas pela ação da classe capitalista e do Estado e seus diversos meios e aparatos, mas também pelas dificuldades dos trabalhadores de perceberem esse processo graças ao desconhecimento das experiências históricas, bem como a ação burocrática de partidos e sindicatos que tentam, a todo custo, combater a auto-organização dos trabalhadores, pois eles sempre querem dirigir os trabalhadores e retirar seu ímpeto revolucionário para reproduzir o capitalismo e seus interesses no interior do mesmo. Os trabalhadores devem se preparar para a luta pela transformação social e entender que tal luta já forma os embriões de organização da futura sociedade e que precisam pensar e organizar no sentido de conseguir não somente superar o capital, o estado e as organizações burocráticas, mas também gerir a sociedade em seu conjunto.

Assim, dois elementos são fundamentais nesse processo: consciência e organização. A questão da consciência remete para o processo de formação intelectual e crítica, que se dá nas lutas e nas leituras, reflexões, debates, criando processos formativos de preparação para a ação de transformação social e de autogestão da sociedade. A questão da organização remete para o processo de criação de formas de auto-organização para a luta e para a gestão da futura sociedade autogerida. Esses elementos são complementares, pois o processo de criação e existência de formas de auto-organização são processos que em si mesmos já contribuem com experiências e reflexões, bem como a formação intelectual traz elementos importantes para a constituição e existência de tais formas. No entanto, é necessária uma ampla formação intelectual para fortalecer a luta, impedir desvios, enfraquecimento, divisões, etc.

Desta forma, a existência de uma associação dos trabalhadores, obstaculizada pela burguesia, é uma necessidade e parte desse processo de luta pela transformação social. Uma associação dos trabalhadores é fundamental para disseminar a formação intelectual e incentivar a criação de formas de auto-organização na sociedade e para contribuir com sua articulação e generalização. As lutas espontâneas apontam para esse processo, mas a classe capitalista e a própria dinâmica da sociedade atual acaba impedindo essas experiências de se consolidarem e avançarem no sentido de apontar para a transformação social. Assim, é fundamental ampliar a formação intelectual para que as experiências de lutas ganhem maior reflexão e gerar um processo cumulativo que fortaleça as lutas futuras.

Tendo em vista tudo isso, a Associação Nacional dos Trabalhadores (ANT) assume a tarefa de esboçar essa forma de associação geral dos trabalhadores na sociedade brasileira. Portanto, a ANT não é uma entidade sindical e nem “representativa”, no sentido usual do termo, dos trabalhadores. Muito menos um partido político. A ANT é uma associação que é expressão política e órgão de luta do proletariado e do conjunto dos trabalhadores e é composta não por todo e qualquer trabalhador, mas sim pelos trabalhadores mais conscientes, organizados e combativos, que perceberam a necessidade de se associarem para realizar os seus objetivos, fundamentalmente a transformação radical e total da sociedade, a emancipação humana através da emancipação dos trabalhadores, o que significa a constituição de uma sociedade autogerida. Nesse sentido, ela é um instrumento de luta dos trabalhadores em geral através dos trabalhadores aglutinados no seu interior.

Aqui é preciso delimitar o que significa o termo “trabalhadores”. A revolução social é produto das lutas operárias, o que remete à classe operária (proletariado). Essa é a classe que produz mais-valor, trabalho excedente, que é apropriado pela classe capitalista, numa relação de exploração. Não existe forma de realizar transformação social sem alterar as relações de produção, ou seja, o processo de produção de bens materiais necessários para a sobrevivência humana. O proletariado é, portanto, a classe revolucionária de nossa época, pois está no coração das relações de produção capitalistas e sua auto-organização no local de trabalho é o que pode realizar a ruptura com o modo de produção capitalista. No entanto, a classe capitalista realiza um conjunto de estratégias para impedir que isso ocorra e para separar o proletariado do resto da população, bem como fragmentar, diminuir, dividir, enfraquecer o proletariado.

A revolução proletária abole o capital e o próprio proletariado, que deixa de existir enquanto classe social de assalariados produtores de mais-valor, e também todas as outras classes sociais, bem como os demais trabalhadores do comércio, serviços, instituições estatais, agrícolas, etc. Esses trabalhadores, entretanto, não estão inseridos nos locais de trabalho onde se realiza a produção dos bens materiais necessários para a sobrevivência humana. Por isso não podem concretizar a autogestão nas fábricas e empresas em que ocorre a produção material. Eles precisam, nesse caso, se aliar ao proletariado e contribuir com que esse efetive a luta pela autogestão nas fábricas e empresas e produção de bens materiais e, ao mesmo tempo, criar formas de auto-organização em seus locais de trabalho e moradia. O proletariado não vai autogerir a sociedade como um todo sozinho. Mesmo havendo uma autogestão generalizada nas fábricas e empresas capitalistas, os trabalhadores de outras empresas são necessários para a autogestão social. O transporte coletivo, por exemplo, não será realizado pelos proletários e sim, inicialmente, pelos trabalhadores envolvidos nesse serviço social, que devem se auto-organizar e se aliar ao proletariado no sentido de generalizar a autogestão e abolir as divisões de classes, inclusive entre esses dois (e diversos outros) setores das classes trabalhadoras.
No processo de revolução social, o novo nasce da superação do velho, mas as marcas da divisão social do trabalho e da especialização não desaparecem da noite para o dia e por isso as habilidades, experiências, formação, dos indivíduos são necessárias até que as novas experiências, autoformação, entre outros processos, possibilitem o fim completo da divisão social do trabalho. Assim, o saber técnico, a experiência acumulada com determinadas atividades exercidas pelos trabalhadores são fundamentais em todos os setores da divisão social do trabalho para que seja possível a autogestão social e a própria abolição da especialização.

A partir dessas considerações, destacamos dois elementos fundamentais: a necessidade da hegemonia proletária e a necessidade da união de todos os trabalhadores. A hegemonia proletária não significa que indivíduos ou grupos proletários governem ou dominem os demais trabalhadores. Significa, tão-somente, que se reconhece o papel fundamental do proletariado no processo revolucionário e a necessidade de sua auto-organização e autogestão nos locais de trabalho, ao lado do reconhecimento da necessidade de abolição do capitalismo e instituição da autogestão social, gerando o fim da divisão de classes, incluindo o próprio proletariado, sendo que os indivíduos desta classe passam a ser produtores associados com (e como) todos os demais. Significa, também, que a teoria que expressa o movimento revolucionário do proletariado (desde Marx, passando pelos comunistas conselhistas até chegar aos seus continuadores contemporâneos) é a linha teórica, intelectual e formativa que é adequada a tal hegemonia. A união de todos os trabalhadores significa que, além dos proletários, os demais trabalhadores se associam para lutar pela transformação social e, em caso de sua efetivação, para gerir a nova sociedade.

É preciso, no entanto, deixar claro outro elemento fundamental. O termo “trabalhadores”, aqui, é utilizado em sentido amplo, incluindo todos os indivíduos que compartilham a hegemonia proletária. Assim, todos os assalariados, trabalhadores desempregados, técnicos e intelectuais, desde que compartilhando tal hegemonia, são considerados trabalhadores e possuem um papel estratégico tanto na luta pela transformação social quanto, no momento em que isso ocorrer, no processo de autogestão da futura sociedade. Assim, “trabalhadores” aqui são todos aqueles que se identificam com a causa proletária e autogestionária. Logo, o termo engloba os setores mais combativos, conscientes e organizados do conjunto dos trabalhadores.

Nesse sentido, são objetivos da ANT:

1)      Abolição do capital e todas as formas de propriedade privada de meios de produção, gerando sua socialização e autogestão pelo conjunto da população, os produtores livremente associados.

2)      Abolição do aparato estatal e as funções do Estado que são necessidades sociais passam a ser autogeridas pelos produtores associados e suas formas organizacionais.

3)      Abolição de todas as organizações burocráticas, incluindo as "representativas” (partidos políticos e sindicatos), pois com a autogestão generalizada, toda suposta forma de “representação” deixa de existir.

4)      Abolição de toda forma de produção mercantil e sua substituição pela produção de bens enquanto valores de uso, o que significa abolição do trabalho assalariado, do mercado, etc.

5)      Instauração da autogestão generalizada na sociedade através do modo de produção comunista fundado no processo de autogestão coletiva da produção.

6)      Constituição de coletivos de autogestão social em todas as instâncias da sociedade, desde o processo de produção e distribuição de riquezas, até a produção cultural, passando pelas outras atividades sociais necessárias.

Esses objetivos, para serem concretizados, são antecedidos por outros objetivos mais imediatos, a saber:

1)      Disseminar a hegemonia proletária através da luta cultural, o que inclui a crítica das ideologias, propaganda generalizada, atividades/publicações/materiais visando formação e autoformação dos trabalhadores;

2)      Apoio ao processo de auto-organização dos trabalhadores em geral;

3)      Atuação, sempre que possível e dentro das capacidades da ANT, nas lutas dos trabalhadores.

4)      Buscar aglutinar os setores sob hegemonia proletária mais combativos, conscientes e organizados da sociedade e generalizar a sua articulação e generalização através da ANT e outras formas de auto-organização.

5)      Combater as formas de divisionismo dos trabalhadores e realçar sempre a necessidade de união e apoiar as lutas pela superação das formas de opressão, desde que sob hegemonia proletária.

6)      Apoiar as reivindicações e exigências dos trabalhadores sempre que contribuírem com as lutas e com os interesses do proletariado e conjunto de trabalhadores.

7)      Disseminar, incentivar e apoiar movimentos grevistas em toda a sociedade, inclusive apontar para a greve geral nacional como objetivo e forma de luta constante dos trabalhadores.

8)      Incentivar iniciativas semelhantes em outros países e lugares, bem como apoiar as que se formarem, buscando uma articulação internacional.

No plano reivindicativo, um dos elementos fundamentais é a luta salarial. Sem dúvida, a luta salarial é uma reivindicação dentro do capitalismo e que não o coloca em questão e nem sempre contribui com a formação e politização dos trabalhadores. No entanto, a luta salarial é parte da luta de classes e coloca em confronto as duas classes sociais fundamentais, a classe capitalista e o proletariado. Assim, a luta salarial promove a luta operária, as primeiras formas de auto-organização, trazendo elementos de consciência e politização. As outras lutas reivindicativas dos trabalhadores também contribuem com isso em menor grau. A ANT, nesse sentido, deve apoiar a luta salarial e efetivar, ela mesma, uma luta nesse sentido para gerar organização e desenvolvimento da consciência, levando ao aumento dos setores mais avançados dos trabalhadores. A luta salarial, portanto, não é um objetivo em si mesmo, mas um meio estratégico de luta que gerando auto-organização, desenvolvimento da consciência, movimento grevista, faz a luta avançar e assim contribui com as lutas futuras. A luta por melhorias para os trabalhadores no interior do capitalismo, desde que seja uma política autônoma de classe, contribui em parte pela própria luta e por criar melhores condições para as lutas futuras. Isso quer dizer que as lutas reivindicativas geram experiências e avanços da organização e da consciência e, havendo conquistas, colocam os trabalhadores em melhores condições de ampliar sua formação e lutar mais eficazmente nos combates futuros. O movimento grevista e a ênfase nas greves localizadas e greve geral nacional são fundamentais nesse processo. As greves devem avançar no sentido de se tornar greve de ocupação ativa, caminho para o esboço da autogestão. A ANT, no entanto, não coloca tais lutas como algo isolado, objetivo em si mesmo, e sim num conjunto amplo de outras lutas e a partir de uma estratégia de luta, cujo objetivo final é a autogestão social, e que o faz sempre realizando a luta específica com a luta geral, o objetivo imediato com o objetivo final, sendo que unem estrategicamente lutas reivindicativas comuns, lutas que exigem reformas revolucionárias (inassimiláveis pelo capitalismo) e a luta pela realização do objetivo final, a autogestão social.

Estas são as propostas e objetivos da ANT, um instrumento de luta dos trabalhadores na luta pela hegemonia proletária e autogestão social.